Saturday, September 01, 2012

O Mundo Pós- Morte


Com o início da segunda metade do século XX, marcada pelo término da segunda grande guerra e a iminência do fim do mundo ( assombrada pela guerra fria), duas correntes intelectuais opostas começaram a se insurgir de maneira aliada: o pensamento tirânico de Nietzsche, e a salvação do povo pelas ideias de Marx. Aliadas porque tiveram um papel importante no que deu início no que conhecemos hoje como pós-modernidade,  que tem como principal característica a crise dos valores.
O que entendo por valores?  Quando o homem da pré-história deixou de ser nômade
( como os animais que migram em busca de alimentos) no momento em que desenvolveu a agricultura e a domesticação dos animais,  se fixou e a partir de então começou a criar aquilo que conhecemos hoje como sociedade.  Como o homem ainda não tinha regras, leis,  em certo momento  da evolução,  foi preciso a criação de valores, uma fenômeno do homo sapiens para a adaptação da espécie.
Essa evolução dos valores se desenvolveu ao longo dos séculos para a sobrevivência pacífica do humano: família, educação, religião, arte,  cultura, honestidade, verdade, ética, amor.
No século XIX, chega ao ponto máximo e ao declínio, o ponto máximo pode ser caracterizado pelo auge do amor romântico, pelas utopias, pelos círculos artísticos francês da Belle Époque que direcionou toda cultura ocidental e marcado o início da bancarrota pela expansão das ideias do alemão Nietzsche, que colocou os valores  no banco dos réus, e o julgamento  permeou até primeira metade do século XX, enquanto o homem destruía o homem; os valores, os alicerces da sociedade se tornaram totalmente fragilizados e portanto os pensadores pós Nietzsche se vestiram de advogados do diabo e decretaram a morte de tudo.
Enquanto os tiranos e os capitalistas disputavam o poder do mundo,  os intelectuais, bem intencionados,  apoiados em Marx criavam uma resistência e viam no comunismo a salvação. E então os valores eram dissolvidos: Deus, família, amor: ilusões psicológicas; arte, beleza, cultura: prazeres burgueses ( avesso as idéias marxistas malversada). E com a derrota do comunismo nos anos 80 do século XX, é enterrada a utopia, as revoluções.
Hoje vemos o que resultou isso tudo, não mais como crise dos valores, mas como a separação definitiva do homem com o humano, ou,  do selvagem com os valores.
Que entendamos: os valores não são imutáveis e universais, tal como sentenciou Sócrates ao dividir o pensamento anterior a ele como pré-socrático. De fato os valores foram criados pelo homem e foi à base da construção da espécie, entretanto esta construção se demoliu: a família já não é mais família, a educação se separou da cultura, a arte é a negação da arte, o amor romântico é comprado e descartado, o amor familiar é raso e sentido apenas com a perda (basta ver a família dos nossos avós e a do nosso tempo), Deus deu o lugar a homens, em suma, todos os valores estão mortos, mas poucos veem, ou aceitam.
Quando somos acometidos por uma noticia da morte de alguém que amamos, o primeiro sentimento é a negação, depois caímos na realidade e somos obrigados a aceitar, por mais difícil que seja, assim é o que aconteceu com os valores: Deus está morto, se estivesse vivo as pessoas seguiam seus mandamentos, mas não é o que acontece, muitos negarão até a morte que sabem da morte de Deus. Família deu lugar a indivíduos que moram no mesmo teto, se moram. A escola não tem mais a função de educar, mas de dar um certificado em troca de informações.
Com a morte da educação, morreu a cultura que está associada à arte e a literatura e que reflete no pensamento criativo e crítico. Mas com a ausência desses valores, sobram apenas cérebros vazios aptos a serem preenchidos com os  anti-valores, da arte visual, musical, teatral, religiosa e  pela vontade do único valor que  move as pessoas, o valor monetário.  

Se alguém leu até aqui, creio que entendeu o que eu quis passar e deve ter pensado comigo que realmente o mundo está escoando bueiro abaixo e que não há mais salvação, mas eu não penso assim, não sou pessimista. Mas como se eu mesmo acredito que os valores humanos estão mortos?
Não me iludo com falsos valores impostos  e nem  que a vida é o nada, volto ao meu estado selvagem e refaço a construção dos valores que engrandecem minha  alma, mantenho a construção de pé, meu abrigo, deixo entrar a cultura, a utopia,  a educação,  a beleza, a arte, a ética, o sagrado, o deus que eu escolher, o amor. Abro a porta aos que querem entrar, não busco ninguém  porque  merecedor é apenas aquele que busca. E quanto mais matarem os valores,  mais eu  sentencio que a morte dos valores  é que está morta.  

Marcos Ribeiro Ecce Ars
Inverno de 2012   

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