Wednesday, July 14, 2010

UM DEVANEIO ARTÍSTICO

No romance Dorian Gray, Oscar Wilde diz, “Toda a arte é completamente inútil”. Ora, isso é mais que sabido, porém não compreendido. Ou seja, o povo não se interessa por arte porque não é pragmática, não tem um fim prático. Se a arte é política ou moral, não é arte, é panfletagem. Na sociedade burguesa-capitalista que ora é burguesa- socialista, o que interessa é o que traz o retorno monetário, e a arte, tanto plástica, literária, musical ou teatral, para o espírito comum, ou ela serve para entretenimento, ou erudição, ou simplesmente não existe. Se é assim, como sobrevive, ou haveria de ter sobrevivido os artistas do passado? Exclusivamente no sentido observado por Kant: “ O gênio é uma mensagem enviada a outro gênio”. Se não fosse assim, o que seria do próprio Kant? Como ele teria atravessado os séculos? Não somente pelo gênio emissor, mas também pelo gênio receptor, este que compreende que a arte não é a forma, propriamente dita, mas a sua essência, sua essência transcendental. Transcendental porque além de compreendê-la, ela é sentida. Sequestradora de alma. Então, sabendo disso, o que o sistema cultural faz por meio da mídia ou das igrejas pós- modernas? O mesmo uso que os detentores mau intencionados fazem com a filosofia, usam a arte como anestésico, ou seja, é trocado seu sentido metafísico pelo gosto popular, traduzindo, eu gosto do que está na moda, porque pragmaticamente eu me incluo numa sociedade, seja ela gospel, sertaneja, da arte contemporânea ou outros rótulos mais, sendo assim, cabe ao gênio criador lançar a mensagem não para o aqui e agora, mas para o destino. Seja ele o amanhã ou daqui a mil anos. E se alguém chamar isso de frustração, responda, frustração será você velho ter passado pela vida e não tê-la sentido. E repetindo as palavras de Whitman, passei pela vida e pude contribuir com um verso.

Marcos Ribeiro Ecce Ars
Inverno de 2010

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